terça-feira, 23 de agosto de 2011

Transamérica

Este é o primeiro de uma série de road movies que comentarei aqui, pelo simples motivo de serem meu tipo de filme preferido.

Os road movies utilizam a estrada como metáfora para o caminho que devemos percorrer, um caminho de descobertas e auto conhecimento. Durante este caminho algumas pessoas se cruzam no ponto e no momento certo passando a fazer parte de uma jornada que eles nem sabem que está sendo realizada. Estas pessoas que encontramos pelo caminho podem ser um amigo, um amor um parente perdido. E elas não sabem o efeito que provocam, não no caminho, mas no caminhar, não no percurso, mas no como percorrer.

É isso que os road movies têm de mais bonito: nos fazer ver através da jornada de outras pessoas a nossa própria busca pela felicidade. E é disso que o filme Transamérica trata brilhantemente.

O filme conta a história da transexual Bree, que a uma semana da tão esperada cirurgia de mudança de sexo, descobre que é mãe (ou biologicamente, pai) de um rapaz preso por porte de drogas e prostituição. Porém com a proximidade de sua cirurgia ela decide não ajudar seu filho, mas sua terapeuta só vai autorizar a cirurgia se Bree for até Nova York buscar o filho, ela vai, contudo não tem coragem de revelar a verdadeira história e se apresentar como que ela realmente é se apresentando para o garoto como missionária da “Igreja do Pai Potencial”.

O filho de Bree é Toby um garoto de 17 anos, que nunca conheceu o pai verdadeiro - teve que enfrentar o suicídio da mãe e os abusos sexuais do padrasto- cujo sonho é ir para Califórnia, pintar o cabelo de loiro, virar ator pornô, comprar uma bela roupa e se apresentar para o pai e quem sabe viver com ele. Mal sabe ele que aquela mulher vestida com muito rosa e roxo não é que ele pensa ser.

Na viagem de Nova York a Los Angeles eles passam por situações que os aproximam e fazem com que aos poucos a verdade apareça.

Durante o caminho percebemos o quanto Bree e Toby têm em comum. Bree é solitária insegura sem coragem de admitir e aceitar que realmente é, necessitando sempre se auto afirmar seja nas roupas muito rosas, na maquiagem sempre muito carregada e seu maior medo é parecer uma mentira. Toby apesar de parecer independente é imaturo, preserva ainda comportamentos infantis como ciúme exagerado, além de precisar de cuidados e assim como Bree extremamente solitário. Estas duas pessoas viajando em um carro sozinhos descobrem que uma semana é muito tempo, este período é suficiente para se gostar de alguém e se importar e querer bem a ela, tanto que Toby chega a confundir este o tipo de amor que eles desenvolvem, um amor entre pai (ou mãe) e filho com amor sexual. Dá tempo também de desenvolver o medo da perda, além de terem que escolher se continuam a trilhar o caminho que sempre percorreram isolados ou se seguem por uma rota diferente juntos.

O filme é uma produção independente, por isso se arrisca a temas tão delicados, com direção e roteiro de Duncan Tucker faz um filme leve e com passagens muito engraçadas como a explicação do motivo de O Senhor dos Anéis ser uma história gay e no diálogo:

- Como se sente sobre seu pênis?
- Eu não gosto nem de olhá-lo.
- E seus amigos?
- Não gostam tampouco.

Kevin Zegers que vive Toby revela-se um ótimo ator capaz de transitar entre várias nuances dramática de forma natural e sem parecer caricato, mas quem realmente se destaca é Felicity Huffman (dá série Desperate Housewives) que dá vida a Bree em uma interpretação magistral e inacreditável com todos os trejeitos e a voz que a personagem exigia, venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em drama concorreu ao Oscar, mas perdeu injustamente para Reese Witherspoon, além, claro da ótima caracterização (compare as fotos abaixo).

No final dessa jornada aprendemos com Bree e Toby que o primeiro passo para gostarmos de alguém e para que este alguém goste de nós é nos aceitarmos como somos, e que certos fatos precisão ser encarados mais cedo ou mais tarde, que a principal transformação é a da mente e não do corpo e que quando conseguimos ver uma pessoa de verdade passamos a nos importar com ela. Aprendemos também que ao dar o primeiro passo rumo a uma jornada nunca mais seremos os mesmos, as coisas mudam e as pessoas também, e no final, ao voltarmos para casa, nos damos conta do valor de tudo que vivemos. Bree descobre que o caminho da descoberta não é fácil nem gentil e que uma cirurgia não pode dar o mais importante: o amor dos outros e o seu próprio.

“Queria que só uma vez eles me olhassem e me enxergassem. Só isso, que me enxergassem de verdade.”

Trecho retirado do filme

Transamerica (EUA, 2005). Drama. Cor. 103 min.
Direção:
Duncan Tucker.
Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers,
Fionnula Fanagan, Graham Greene.

3 comentários:

  1. adorei o post, acho que é a primeira vez que dou conta de ler algo sobre um filme, você escreve muito bem e prende a atençao. Me deu muita vontade de ver o filme. Verei todos que você postar (tentarei pelo menos). Ahh! Adoro essas frases que vc retira dos filmes. Parabéns!

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  2. adoro esse filme! a Felicity tem uma atuação impecável, e nem dá pra negar o charminho do Kevin Zeggers, né? o filme é comicamente dramático... MUITO BOM!

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  3. Esse é o melhor filme que já assisti em minha vida! *o*

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